terça-feira, 16 de junho de 2009

Dormindo


-Quando estou a dormir, nado.
-O quê?
-Quando estou a dormir, nado.
-Ora essa!? Como se pode nadar enquanto se dorme? E, além disso, tu nem sequer sabes nadar.
-Enquanto sonhamos, podemos fazer o que quisermos.
-Sim, isso é verdade. Ainda ontem sonhei que estava a comer uma deliciosa refeição de ervas tenras.
-Sonhaste, não. Estavas a comê-las.
-Não, estava a dormir.
-Sim, estavas a dormir, mas estavas a comê-las.
-Não, estava a sonhar que estava a comê-las.
-Então não disseste que eram deliciosas? Estavas a comê-las.
-Pois, acho que tens razão. Foram as ervas mais deliciosas que comi até hoje. Ainda estou a sentir aquele sabor, aquela seiva!...
-Exacto. Eu, quando estou a dormir, também nado melhor. Penso que tudo é melhor quando estamos a dormir.

O gafanhoto sacudiu a água e deu um salto. A abelha limpou as ervas da noite e voou.

domingo, 14 de junho de 2009

O dono do Mundo


Os senhores engravatados leram o contrato com ar de enfado. Quando terminaram, voltaram-se para mim e esboçaram um sorriso socialmente correcto.
- Concorda com as condições do contrato?
- Sim – Respondi, sem reflectir. Afinal, era para isso que ali estava; assinar e despachar aquilo depressa.
Quando saí para a rua, contrato na mão a provar a minha nova posse, nem queria acreditar: tinham-me feito dono de um pedaço do planeta! Dei por mim a pensar em como tudo isto teria começado. Quem teriam sido os primeiros engravatados a decidir que pedaço do planeta cabia a quem?
Entrei no carro e dirigi-me ao meu quinhão, essa coisa animal que herdámos dos tempos em que tínhamos o corpo completamente coberto de pêlos: o território.
Quando cheguei e vi a nova casa com o belo jardim em volta, pensei: “Talvez seja melhor começar a urinar por aí, pelos quatro cantos do relvado, para demonstrar que tudo isto me pertence”.
Da próxima vez, quero o meu quinhão de Neptuno.