quinta-feira, 19 de março de 2009

Pássaros negros

"O pássaro livre" Dulce Osinski (óleo sobre tela)


Desceste as escadas e vestiste a rua de intenso vermelho. Pergunto-me se poderás desatar os pássaros negros que encaminhei para a tua janela. “Gostaste da camisola?”, as lágrimas a rasgarem-te o rosto, e eu sem dizer nada. Estás encostada à porta do nosso quarto com o mundo a desmoronar-se nos teus braços, à espera. O silêncio apoderou-se do teu corpo como um pecado. Sais, e nesse instante abates o último sopro de esperança que há em mim; levas contigo os sonhos, a memória, o lugar íntimo das coisas. As rapaces virão para me atormentar, e então lamentarei os espaços cobertos de ausência, a destruição do dicionário do amor.
Penso no teu vestido vermelho a acariciar a calçada. Demasiados serão os homens que te consumirão de desejo. Quantos serão capazes de te olhar?

Sem comentários:

Enviar um comentário